A “tempestade perfeita” que vive o Rio Grande do Sul neste início de
mandato é o espelho da mesma crise que vive o Brasil no chamado “Dilma II”: os
governos gastaram muito mais do que seu tamanho, medido por suas receitas e
funções, permitia. Seja por quais motivos forem, o fato é que houve,
sim, imprudência e irresponsabilidade fiscal. Agora, a
conta chegou na forma de desemprego, recessão, inflação, endividamento
crescente e a incapacidade de o Estado honrar seus compromissos. É bem
verdade que, ao gastarem mais do que arrecadaram, os governos tiveram para tal
a chancela explícita de algumas classes cujas rendas dependem do Tesouro. A conta, porém, e como sempre, será paga por todos nós.
Ou melhor, por quase todos, pois há entre os atores econômicos, sociais e/ou
políticos, aqueles que lucram com as crises. O exemplo mais recente
desse “acordo entre partes” é o uso dos depósitos judiciais, última fonte para
pagar o mínimo do dia a dia, estando as demais esgotadas. Neste ano, 2015, pagar-se-á mais
em juros pelo uso desses depósitos do que o próprio volume que deles se pode
utilizar o atual governo. Pelo longo período de governos que gastaram
mais do que arrecadaram, é fácil ver quem ganha. É fácil, também, ver quem
perde.
O Rio Grande
quebrou. O Brasil quebrou. A crise assim aberta exige que as autoridades
encontrem uma saída para a situação. Essa saída existe. Ela, a saída, que outra coisa não é senão o
Estado desejado, requer profundas e óbvias transformações, a serem feitas
necessariamente de modo pacífico e democrático, como está a pedir a “voz das
ruas”. A base para a repetição desse tipo de crise é essencialmente cultural.
Deriva de uma particular visão da natureza do Estado, de suas funções e
sustentação. Tudo começa, portanto, por uma mudança que transforme a cultura
que baseia as decisões de sempre à nova cultura, já presente graças à liberdade
das manifestações de rua, com um rotundo não à corrupção e à ineficiência do
Estado. Assumir a responsabilidade de conduzir essa transição entre a nova e a
velha cultura é o grande desafio.
No nosso governo, fizemos o ajuste com o
objetivo de permitir aos gaúchos alcançarem no futuro, sem rupturas, a situação
de outros Estados, como São Paulo, que conseguiram sustentar uma trajetória de
crescimento qualificando os serviços públicos e realizando os novos
investimentos necessários da era moderna. Trabalhamos para que o Estado
voltasse a ter melhor qualidade de vida, sempre com total transparência – o que
incomoda os da velha cultura, a do “nós e eles” tão ultrapassada – e com a
convicção de que a poucos interessa uma crise das finanças públicas estaduais.
Ela não serve às crescentes demandas por serviços públicos, não serve aos
setores produtivos e não serve aos bons servidores públicos. Imperioso lembrar que, pagas em
2007 e 2008 as muitas dívidas herdadas, com o Orçamento sem déficit de 2009
iniciamos uma recuperação responsável de investimentos sem descuidar do
compromisso com a ampliação dos serviços que a população necessitava. Crescemos
e distribuímos.
Foi uma difícil conquista, mas viu-se que é
muito fácil desmanchá-la! As consequências estão visíveis, evidenciando o
contraste entre as duas culturas: a antiga, do Estado gastador e ineficiente, e
a nova, da responsabilidade fiscal. O Déficit Zero, devido à crise aberta das
finanças públicas, vai sendo compreendido como uma conquista do povo gaúcho, e
não apenas uma opção ideológica de um partido ou o capricho de algum governo. A sociedade está cada vez mais consciente de quem é que,
efetivamente, paga a conta: não é o governo, nem o partido político que está no
poder. É ela mesma.
A saída para toda essa situação crítica existe, mas precisa ser
entendida como um processo longo, fruto de uma escolha e de uma decisão
coletivas. As experiências estão aí, registradas, com seus erros e acertos, à
disposição para lastrear a construção de um projeto de futuro a ser
compartilhado e priorizado por todos os governantes. Quem ganhará será a
sociedade gaúcha.
Com o propósito de contribuir para o debate
sobre a retomada do desenvolvimento do Estado, ZH solicitou a lideranças
empresariais, sindicais e políticas artigos analíticos e propositivos a partir
da seguinte questão: O Rio Grande tem saída? Como? A série, iniciada em junho
com opiniões de representantes de entidades empresariais, teve continuidade em
julho com sindicalistas e lideranças classistas e em agosto com parlamentares.
Em setembro, é a vez de governantes.
Yeda Crusius *Governadora do Estado de 2007 a
2010- 23/09/2015 Zero Hora | Artigo | p. 21.
Editado por: Edison Franco.
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