Numa época de mentiras
universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. Se George Orwell estivesse
por ai, seria prontamente acusado de terrorismo eleitoral.
Enquanto insistirem em falar
mentiras sobre os “neoliberais”, cumprirei o compromisso de falar verdades
sobre o governo.
Há dois elementos constrangedores envolvendo o governo
Dilma: a incompetência e a desonestidade intelectual - essa última conhecida
popularmente como hábito da mentira.
Inventam o que querem para evitarem a mudança de endereço.
Abaixo listo as dez mentiras que mais me incomodam, cujas implicações ao seu
patrimônio podem ser substanciais.
Restrinjo-me a questões de
economia e finanças. Não imagino que a mitomania limite-se a essa área, mas
prefiro manter-me no escopo, por uma questão de pertinência desta newsletter.
- “A CRISE VEM DE FORA.”
Esse é o discurso oficial para justificar
a recessão técnica em curso no Brasil. O que os dados podem nos dizer sobre
isso? Comecemos do mais
simples: o crescimento econômico do Governo Dilma será, na média, dois pontos
percentuais menores àquele apresentado pela América Latina. Nos governos Lula e
FHC, avançamos na mesma velocidade dos vizinhos.
Indo além, há de se lembrar de
que a economia mundial cresceu 3,9% em 2011, 3% ao ano entre 2012 e 2013, e
deve emplacar mais 3,6% em 2014. Nada mal.
Comparando com o pessoal mais aqui ao lado especificamente,
Chile, Colômbia e Peru, exatamente aqueles que adotaram políticas econômicas
ortodoxas e perseguiram uma agenda de reformas na América Latina, cresceram
4,1%, 4,0% e 5,6% ao ano, entre 2008 e 2013.
Enquanto isso, a
evolução média do PIB brasileiro na administração Dilma deve ser de 1,7% ao
ano.
A retórica oficial, desprovida de
qualquer embasamento empírico, continua ser de que a crise vem de fora. Aquela
marolinha identificada pelo presidente Lula, lá em 2008, seis anos atrás, ainda
deixando suas mazelas.
- “A POLÍTICA NEOLIBERAL VAI AUMENTAR O DESEMPREGO.”
Não há como desafiar o óbvio de
que o produto agregado (PIB) depende dos fatores de produção, capital e
trabalho. Ora, com o PIB desabando por conta da política econômica heterodoxa,
cedo ou tarde bateremos no emprego.
Podemos não conseguir precisar
qual a exata função de produção, ou seja, de como o PIB se relaciona com o
nível de emprego, mas não há como contestar a existência de relação entre as
variáveis.
O crescimento econômico da era Dilma é o menor desde
Floriano Peixoto, governo terminado em 1894, subsequente à crise do
encilhamento. Há uma transmissão óbvia desse comportamento para o emprego.
Os dados do CAGED de maio
apontaram a menor geração de postos de trabalho desde 1992. Em sequência, junho
foi o pior desde 1998. E julho, o pior desde 1999.
Quem vai gerar desemprego é a
nova matriz econômica - não o fez ainda simplesmente porque essa é a última
variável a reagir (e a única que ainda não foi destruída).
- “A OPOSIÇÃO QUER ACABAR COM O REAJUSTE DO SALÁRIO MÍNIMO.”
Essa é uma mentira escabrosa por vários motivos. O
primeiro é trivial: os dois candidatos da oposição já se comprometeram, em
dezenas de oportunidades, em manter a política de reajuste de salário mínimo.
Ademais, quando Dilma se coloca
como a protetora do salário mínimo, está simplesmente contrariando as
estatísticas. O aumento real do salário mínimo foi de 4,7% ao ano entre 1994 e
2002, de 5,5% ao ano entre 2003 e 2010, e de 3,5% ao ano entre 2011 e 2013.
Ou seja, o reajuste do mínimo na era Dilma é inferior
àquele implementado por Lula e também ao observado no período FHC. Ainda assim,
Dilma se coloca como o bastião em favor do salário mínimo.
- “A POLÍTICA NEOLIBERAL PROPOSTA PELA OPOSIÇÃO VAI PROMOVER ARROCHO SALARIAL.”
Esse ponto, obviamente, guarda relação com o anterior.
Destaquei-o mesmo assim porque denota a doença de ilusão monetária ou uma
tentativa descarada de enganar a população.
Arrocho salarial já vem sendo promovido pela atual
política econômica, por meio da disparada da inflação. O salário nominal, o
quanto o sujeito recebe em reais no final do mês, não interessa per se. O
relevante é como e quanto esse numerário pode ser transformado em poder de
compra - isso, evidentemente, tem sido maltratado pela leniência no combate à
inflação.
Precisamos dar profundidade
mínima ao debate. Se você consegue aumentos sistemáticos de salário acima da
produtividade do trabalhador, a contrapartida óbvia no longo prazo é a
inflação, que acaba reduzindo o próprio salário real.
O que os “neoliberais” querem é
perseguir aumentos de produtividade maiores e duradouros. Isso permitiria dar
incrementos de salário substanciais, sem impactar a inflação.
Caso contrário, aumentos do
salário nominal serão corroídos pela inflação.
- “PROGRAMA DE MARINA REDUZ A PÓ POLÍTICA INDUSTRIAL.”
A presidente Dilma realmente não precisa ter essa
preocupação, pois ela mesma já fez o serviço. O Plano Brasil Maior, lançado em
2010 com metas para 2014, não conseguiu entregar sequer um de seus vários objetivos.
Dilma oferece simplesmente o maior processo de
desindustrialização da história brasileira, fazendo o presidente da Fiesp
afirmar categoricamente que somente louco investe hoje no Brasil.
Seria pertinente preocupar-se com
a própria política industrial antes de amedrontar-se com o programa alheio.
Quem defende uma política de
campeões nacionais, em que se escolhem a priori os vencedores da prática
concorrencial desafiando a lógica de mercado, não entende absolutamente nada de
empreendedorismo e política industrial.
O maior elogio que Marina poderia
receber à sua política industrial é a desconfiança de Dilma.
- “A POLÍTICA MONETÁRIA FOI EXITOSA.”
A frase foi proferida por
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em seminário nos EUA sobre política
monetária. A inflação brasileira tem sistematicamente namorado o teto da meta,
de 6,50% em 12 meses, ignorando o princípio básico de um sistema de metas, em
que o centro do intervalo deve ser perseguido. A banda de tolerância de dois
pontos existe apenas para abarcar choques exógenos.
A rigor, a inflação em 12 meses
está até acima do teto. O IPCA de agosto aponta variação de 6,51% em 12 meses,
estourando o limite superior do intervalo.
Transformamos o teto no nosso objetivo e represamos cerca
de dois pontos de inflação através do controle de preços de combustíveis,
energia e câmbio.
Esse é o tipo de êxito que esperamos da política
econômica?
- “PRECISAMOS DE UM POUCO MAIS DE INFLAÇÃO PARA NÃO PERDER EMPREGOS.”
Para ser justo, a frase, ao menos
que seja de meu conhecimento, não foi dita ipsis verbis por nenhum membro do
Governo. Entretanto, a julgar pelas decisões e diretrizes de política
monetária, parece permanecer o racional da administração petista.
O velho trade-off entre inflação
e crescimento, em pleno século XXI?
Bom, antes de entrar no debate
acadêmico, pondero que poderia até ser verdade se houvesse, de fato,
crescimento. Conforme supracitado, não é o caso.
Ignorando esse fato e fingindo
que vivemos crescimento econômico pujante, a questão sobre o trade-off entre
inflação e crescimento parece apoiar-se numa discussão tacanha sobre a Curva de
Phillips.
O debate até faria sentido se
estivéssemos nos idos de 1970. Dai em diante, Friedman, Phelps e outros
destruíram o argumento de mais inflação, mais emprego.
A partir da síntese de 1976,
naquilo que ficou batizado de crítica de Lucas, com trabalhos posteriores,
sobretudo de Kydland e Prescott, a fronteira do conhecimento passou a
incorporar a ideia de que o trade-off entre inflação e desemprego existe apenas
a curtíssimo prazo.
Ao trabalhar com uma inflação
sistematicamente mais alta, rapidamente voltamos a um novo equilíbrio, com
nível de preços maior e o mesmo nível de emprego original.
E, sim, o espaço aqui está aberto
para o pessoal da Unicamp rebater o argumento de Lucas (professor Belluzzo
incluindo, sem nenhum tipo de enfrentamento aqui; convite educada e
genuinamente a um derbi das ideias). Criticam-nos por ouvir apenas a oposição e ignoram que eles declinam nossos
convites - só pode haver vozes governistas e/ou heterodoxas em nossos eventos
se elas aceitarem participar, certo? Lembre-se: fizemos o convite ao competente
Nelson Barbosa, que, infelizmente, não pode comparecer por incompatibilidade de
agenda.
- “AS CONTAS PÚBLICAS ESTÃO ABSOLUTAMENTE ORGANIZADAS”.
O superávit primário, embora
menor do que em 2008, é um dos maiores do mundo. Dizer que há uma
desorganização fiscal é um absurdo.”
A preciosidade foi dita pelo ministro Guido Mantega em
entrevista ao jornal Valor. O superávit primário do setor público não é somente
menor àquele de 2008. No primeiro semestre, foi o menor da história, em R$ 29,4
bilhões.
Nos últimos 12 meses, a variável
marca 1,4% do PIB, sendo metade derivado de receitas extraordinárias, como
Refis e leilão de libra. E se considerarmos o atraso em pagamentos em
subsídios, precatórios e repasses aos bancos públicos para benefícios sociais,
provavelmente não passamos de 0,5% do PIB.
O déficit nominal bate 4% do PIB,
flertando com aumento de dívida, maiores impostos e/ou mais inflação à frente.
Essa é a herança que a “absoluta organização das contas públicas está nos
deixando.”
- “NUNCA FOI FEITO TANTO PELO POBRE NESTE PAÍS.”
Intuitivamente, você já poderia
desconfiar da afirmação quando pensa na inflação, que é um fenômeno
essencialmente ruim para as classes mais baixas. Os abastados têm um estoque de
riqueza aplicada em ativos que remuneram acima da inflação. Logo, estão em
grande parte protegidos. A inflação é um instrumento clássico de concentração
de riqueza.
Mas há de ser além da simples
intuição, evidentemente. Aqui, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) de 2012, última disponível, é emblemática.
A constatação principal é de que,
depois de 10 anos ininterruptos de melhora, a desigualdade de renda para de
evoluir em 2012. O coeficiente de Gini, medida clássica de equidade, para de
cair e as curvas de Lorenz de 2011 e 2012 são sobrepostas.
Em adição, a relação existente
entre a renda apropriada pelo 1% mais rico da população e os 50% mais pobres
aumenta de 0,66 para 0,69. Ou seja, o resultado é simples: quebramos uma
sequência de 10 anos de avanço da distribuição de renda no Brasil.
A política
econômica heterodoxa não cresce o bolo e também não o distribui de forma mais
equitativa.
- “A OPOSIÇÃO FAZ TERRORISMO ELEITORAL.”
Se você compactua com um dos nove
pontos anteriores, você é um terrorista eleitoral, egoísta e interessado apenas
em si mesmo. Provavelmente, é financiado por um dos candidatos de oposição.
Enquanto isso, a situação acusa a
candidata oposicionista de homofóbica e de semelhanças com Fernando Collor.
Sim, ele mesmo, parte da base de apoio da....situação.
Seríamos nós, analistas e economistas, os terroristas?
ESSA É A HERANÇA QUE FICA PARA 2015. VOCÊ TEM DOIS
CAMINHOS A ADOTAR: O PRIMEIRO É ESPERAR AS CONSEQUÊNCIAS MATERIAIS DESSA GESTÃO
DESASTROSA SOBRE SEU PATRIMÔNIO, E O SEGUNDO É COMEÇAR A SE MEXER, DE MODO A
PROTEGER OU ATÉ MESMO AUMENTAR SUAS ECONOMIAS.
Fonte: Esta mensagem foi enviada
para edisonf3@gmail.com como parte da assinatura gratuita do conteúdo Empiricus
Research - Rua Iguatemi, 354 cj 101-01451-010 -Itaim Bibi – São Paulo/SP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário