Em 2007, foi anunciada pela
Petrobrás a descoberta de um megacampo, batizado com o nome de Tupi. Passados
três anos, depois de muito Tupi para cá, Tupi para lá, o alto comando da
Petrobrás resolveu trocar o nome do campo para... para que outro nome, mesmo?
Adivinhe! Pois é, depois de guri grande, o campo de Tupi virou Campo de Lula.
Há, em nosso país, uma histórica
e bem sucedida petrodemagogia. Quem entra no Portal Brasil, por exemplo, e lê a
nota do governo sobre o Campo de Libra e o Pré-sal vai pedir para ser congelado
hoje e levado ao micro-ondas daqui a alguns anos. No entanto, é importante para
a política do poder que essas riquezas minerais, sepultadas sob quilômetros de
coluna d'água e ainda mais espessas camadas geológicas, rendam votos no
curtíssimo prazo.
Esse é o raciocínio que explica
os abusos políticos e de informação envolvendo a Petrobrás. Em 2006, o
ex-presidente Luiz Inácio pousou na plataforma P-50 e, minutos após, exibiu
para os fotógrafos as mãos lambuzadas de óleo extraído da Bacia de Campos. O
fato foi comunicado à nação como início da autossuficiência. O Brasil se
tornaria exportador. A vaga na OPEP estava logo ali, provavelmente ao lado da
cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Mas o dito logo ficou pelo não dito.
Os anunciados saldos positivos
que viriam para a balança comercial do país a partir de 2010 viraram saldos
negativos e assim se mantêm. Até o passado mês de agosto o Brasil já gastara,
só neste ano, US$ 28 bilhões em importação de petróleo e derivados e essa conta
joga no vermelho a balança comercial de 2013. Pensando sobre isso, e já sabendo
que quatro empresas haviam desistido de participar, acomodei-me diante da tevê
para assistir ao leilão do Campo de Libra. O Globo News, sabe lá por que,
demonstrava imenso interesse em duas pacíficas e ociosas barreiras que se
entreolhavam no meio da avenida. Numa estavam alinhadas tropas militares.
Noutra, pequeno grupo de manifestantes. A tranquila cena atraía tanto a atenção
da emissora que ela repartia igualitariamente: meia tela para cada evento.
Assistir o leilão do campo de
Libra me fez lembrar aqueles filmes nos quais nada acontece e a gente resiste
teimosamente só para saber onde aquilo vai dar. E dá em nada mesmo. Perdi meu
tempo testemunhando um conflito que felizmente não houve e um leilão que
infelizmente não aconteceu. O único consórcio que apresentou proposta tinha a
Petrobrás como líder e foi declarado vencedor pelo lance mínimo admitido. Isso
é leilão que se apresente num negócio de tamanho porte? Por que tanto desinteresse
mundial em riquezas que o governo anuncia tão promissoras e pródigo?
Mesmo assim, horas após, a
presidente veio a público festejar o resultado do evento e partilhar hipotéticos
trilhões de reais que sanearão todas as carências do país. É a arte de gastar,
retoricamente, recursos talvez alcançáveis em futuro remoto, convertendo-os em
votos na urna de logo mais.
No dia seguinte, ainda
ponderando as patéticas cenas da véspera, abro minha caixa de e-mails e o
primeiro que me cai sob os olhos dizia assim: "O Brasil comprou do Brasil
uma reserva de petróleo para ficar com 40% para o Brasil". Disse tudo.
Fonte: Percival Puggina, coluna em Zero Hora, domingo, 03 de
novembro de 2013.
Editado por: Edison Franco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário