Perdoem-me a escolha da forma, a digressão, mas, como disse
recentemente Fernando Henrique em entrevista sobre o momento atual do povo nas
ruas, a idade permite por tudo o que já vivi na matéria. Mais importante no momento em que celebramos
os 19 anos da moeda Real, e vemos perigosos sinais de falta de amor por ela
pelo governo atual, quero registrar um pouco da gestação e nascimento desses
anos de estabilidade. Como em artigo recente no Estadão, Gustavo Franco afirmou
“E o real foi para as ruas” sim, a defesa contra a volta da inflação está
levando o povo às ruas. Novo ciclo.
Era 1984. Nos nada saudosos tempos da hiperinflação, eu tive
a responsabilidade de por dois anos ser Editora da Revista da ANPEC –
Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia, sendo eu mesma
coordenadora de um deles, o da UFRGS. Cada número, anual, reunia os frutos dos
debates que antecediam, com temas provocativos, nosso Encontro Anual de final
de ano, onde pelos economistas ferviam ideias livres, agregando os debates
vindos de todos os cantos e cursos do país. Ainda nos dividiam entre
monetaristas e estruturalistas – a eterna divisão ideológica…
Naquele ano realizamos, em outubro, por convite de Mário
Henrique Simonsen, na FGV do Rio de Janeiro, o debate sobre como atacar e
acabar com a hiperinflação. As propostas polares eram (1) dada a
impossibilidade de plano negociado na sociedade – tempos das Diretas Já e a
evidente instabilidade política gerada pela transição para a volta à
democracia, o plano por choque de congelamento de preços com troca imediata de
moeda (Cruzado), e (2) um criativo plano baseado na experiência europeia do
pós-guerra, de fazer a transição aberta e negociada por um tempo através da
coexistência de duas moedas, mudando os contratos até poder trocá-los pela
única, definitiva e descontaminada moeda – à qual os nossos autores, em
homenagem histórica à nossa primeira moeda, denominariam Real – a dos réis ou mil
réis.
As eleições foram indiretas. Mas morto Tancredo antes da
posse, e assumindo Sarney sob forte instabilidade, venceu e foi aplicado em
1986 o primeiro modelo, o do congelamento, com uma nova moeda, Cruzado. O mundo
em chamas pelos choques de petróleo de 1973 e 1979, e com as crises sequenciais
de dívida pelo mundo, não havia a quem recorrer. Era uma tonteira e um salve-se
quem puder. Aqui foi assim, choques e moedas sequenciais na chamada “década
perdida”.
Então mudou o
Brasil e mudou o mundo. Veio a Constituinte de 1988, com a estruturação do
Estado Democrático de Direito, o nascimento do PSDB em meio a ela, a queda do
Muro de Berlim em 1989, – com o fim da Guerra Fria, e aqui o derradeiro choque,
o do Collor e o sequestro da poupança em 1990. Inflação é desconfiança,
estourou logo ali. Nossos criadores do Real àquela época, na ponta Pedro Malan,
corriam o mundo até ser assinado o Plano Brady, o da renegociação global das
dívidas dos choques do petróleo.
Sem golpe, assumindo Itamar Franco em 1993, sob a batuta do
então ministro Fernando Henrique Cardoso e a genial equipe que montou, finalmente
pudemos viver o período de construção corajosa e competente da confiança dentro
da sociedade. Foi pela construção do Plano Real, andando juntas a URV e a moeda
temporária de plantão, o Cruzeiro Real de 1993 até 1º de julho de 1994, data de
nascimento do Real. Logo depois, os anos corajosos dos dois governos do PSDB,
com a mesma equipe. Controlamos a inflação sob as chuvas e tempestades das
crises internacionais, e deixamos pronta a economia da estabilidade e a
sociedade da confiança entre governantes e governados, transparência e mudança.
Mudou o Brasil para melhor.
É por isso que celebrar os 19 anos do Real construído com
a liderança da PSDB nos chama de volta ao início: oferecer ao Brasil a
alternativa possível e concreta de avançar, barrando o retrocesso que as ruas
nos dizem ter percebido e não desejar. Feliz aniversário junto com a imensa
maioria que celebra conosco os 19 anos do Real.
*Fundadora e Presidente de Honra do PSDB-Mulher
04/ 07/ 2013.
Editado por: Edison Franco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário