YEDA CRUSIUS FALOU
COM O G1 NESTA QUINTA-FEIRA (12).
(Foto: Caetanno Freitas/G1)
A ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius está de
volta à cena política. Mais de dois anos e meio depois de deixar o Palácio
Piratini, ela afirma que chegou o momento de acordar do “período sabático”,
como a própria define. Em entrevista concedida ao G1 nesta quinta-feira (12),
Yeda anuncia que disputará uma cadeira na Câmara dos Deputados, em 2014, e
confirma apoio a Aécio Neves na disputa do partido à presidência da República.
“O que me guia é a política. Tenho sido chamada para atuar
nacionalmente e desta vez, pela primeira vez, ao invés de condicionar, acho que
tenho de ajudar o partido para que essa candidatura venha em 2014 como deputada
federal”, diz Yeda.
Animada, falante e aberta a todos os temas, Yeda Crusius
avalia seu próprio governo – que antecedeu Tarso Genro, entre 2007 e 2011 – e
sublinha erros e acertos, como a relação conturbada com seu vice, Paulo Afonso
Feijó, com quem garante nunca ter feito às pazes.
Na conversa, Yeda evita críticas fortes ao governo Tarso
Genro, mas considera um erro o aumento da dívida pública e a criação da Empresa
Gaúcha de Rodovias (EGR) para administrar as estradas estaduais. O crescimento
de 15% do PIB, anunciado nesta semana pelo Piratini, foi atribuído ao ano sem
seca, que beneficiou o agronegócio.
A ex-governadora também fala sobre a greve dos professores,
que já dura 17 dias. Yeda critica o que chama de política "de altos
salários” do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS-SINDICATO) e compara o recente
protesto na casa do governador ao episódio em frente à sua residência, em 2009,
fato que, segundo ela, mudou sua vida.
CONFIRA ABAIXO A ÍNTEGRA DA
ENTREVISTA COM YEDA CRUSIUS.
G1 - Passados mais de dois anos desde que a senhora deixou o
governo, que avaliação faz do seus erros e acertos no Palácio Piratini?
Yeda Crusius - O primeiro acerto foi termos formado um
grupo e ter constituído apoio da população que nos elegeu para confirmar que
era possível dar ao Rio Grande do Sul aquilo que ninguém acreditava que ele
pudesse ter: sua autonomia fiscal. Era o Estado poder fazer valer suas
prioridades com seu próprio orçamento, levar a palavra autonomia como guia.
Então, o acerto foi ter feito do Rio Grande do Sul um estado autônomo na
questão orçamentária. Não fomos de pires na mão a Brasília. Meu maior erro foi ter
aceitado, ou não ter conseguido alguma ajuda que impedisse isso, dois governos:
o nosso e o do vice-governador, que era associado a mais radical das oposições,
a mais destrutiva das oposições. Então, meu maior erro foi não ter obtido
sucesso para fazer uma mudança neste campo. Eu peguei um ciclo ruim, um ciclo
de vazamentos, que acabou logo depois que nós saímos.
G1 - A senhora fez
as pazes com Paulo Afonso Feijó (ex-vice-governador)?
Yeda - Não se faz as pazes. Foi ele quem brigou comigo.
Era ele quem queria minha cadeira de governadora. Na verdade, nunca tinha tido
convívio com ele e nunca tive. Até tentei. Passei o governo duas vezes para
ele, buscava que ele estivesse junto com a gente, de forma inútil. Foi uma
pessoa colocada por parceiros de muitos anos que acabou resultando nessa coisa
que a história vai escrever. Porque é difícil você ter um caso como esse. Foi
um "case", não é uma coisa comum. Os interesses mais negativos, de
golpe, eu passei durante muito tempo por isso, com quem queria meu lugar, com
quem queria me tirar antes da hora. Mas nós resistimos. Nunca estive sozinha.
G1 - Qual a
avaliação que a senhora faz do governo Tarso Genro? O que achou do crescimento
de 15% do PIB anunciado nesta semana?
Yeda - Eu felicito a agroindústria, o agronegócio gaúcho.
Também tive um “pibão” de 10,9% em meio à crise mundial. Foi muito forte, houve
recessão no mundo inteiro. O Rio Grande do Sul depende da safra e com ela a
incorporação em tecnologia. Então eu saúdo de sorriso aberto. O campo já esta
aí há muito tempo. Quando você conseguir dominar a seca, você vai fazer do Rio
Grande do Sul um estado maior e melhor. Mas eu não faço avaliação do atual
governo. No meu tempo, eu fiz minha parte. Investimos uma “barbaridade” e não
fizemos déficit. Depois do “déficit zero”, investimos em todas as áreas: em
saúde, segurança pública. Os indicadores sociais melhoraram de uma maneira
extremamente significativa. Então, nesse sentido, provamos que não precisa ter
déficit. Se esse governo escolheu ter déficit, portanto, aumentar a dívida, eu
lamento. Mas é o inverso do que nós queremos.
G1 - O governo
Tarso acabou com as concessionárias em rodovias estaduais. Você considera um
erro ou um acerto? Qual sua avaliação sobre a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR)?
Yeda - Não vou avaliar a EGR porque eu jamais teria
criado ela. A minha proposta era outra. Eu queria duplicar as estradas com
dinheiro do orçamento do estado, somado a um novo contrato com as
concessionárias. O Rio Grande do Sul é o que tem menos estradas duplicadas. É
ridículo o que temos hoje em um estado onde se transporta o agronegócio pelas
estradas. Repetiria tudo que fiz. O governo federal me impediu de fazer melhor
na época. Eu acho que não faria nada diferente. Eu propus reduzir a cobrança de
pedágios em 30%, em janeiro de 2009, acertar o passivo da dívida criada no
governo Olívio Dutra e um mapa de duplicações, que não fizemos porque o
Ministério do Transporte negou.
G1 - O magistério
está em greve. A paralisação também atingiu o seu governo e houve muita
polêmica e discussão com a senhora. Como era sua relação com a categoria? Acha
que o governo atual tem condições de pagar o piso nacional?
Yeda - Entrei no governo com uma lei de piso nova. Mas
nós consideramos inconstitucionais. Eu não podia pagar a lei do piso sem
reestruturar a carreira dos professores. Então, para não prejudicar os de
baixo, propus triplicar o salário de quem entrava na carreira. Mas o CPERS não
quis. A política deles é de altos salários. Sempre foi assim. Não se importavam
com o que a gente pensava. Saí do governo e o Supremo ainda não havia dado a
decisão. Depois mandaram aplicar. Mas acho que o governo não tem condições de
pagar o piso sem reestruturação de carreira. Nada mudou de lá para cá.
G1 - Recentemente,
o CPERS protestou na casa do governador. Qual a lembrança que a senhora tem do
episódio de 2009, quando o sindicato foi até sua residência?
Yeda - O protesto na frente da minha casa foi logo depois
do déficit zero. Mas o protesto deles na casa do governador Tarso foi
diferente. Agora, quem estava lá era a Tropa de Choque. No meu caso não. E eu
morava com as crianças, a casa era aberta. Naquele momento eu percebi que não
poderia morar com minha família. Toda essa tentativa de me tirar do cargo
gerava muita violência. Decidi que não podia morar com filhos ou netos. Mudei
radicalmente minha vida a partir daquele episódio.
G1 - Já faz algum
tempo desde que a senhora concedeu a última entrevista. A senhora decidiu falar
por que vai voltar à cena política? Pretende se candidatar em 2014?
Yeda - Eu ainda estou no meu período
sabático. Com as mobilizações de junho, pensei: tenho que fazer alguma coisa.
Com meu partido, o PSDB, se organizando, construindo unidade, não vejo por que
não. O que me guia é a política. Tenho sido chamada para atuar nacionalmente e
desta vez, pela primeira vez, ao invés de condicionar, acho que tenho de ajudar
o partido para que essa candidatura venha em 2014 como deputada federal.
G1 - Em sua
opinião, qual é o nome do PSDB para a disputa presidencial no país? O seu
partido tem condições de ganhar a eleição? A senhora sente a oposição
enfraquecida?
Yeda - Se não houvesse esse tipo de condição, de tirar o
governo do PT, o partido nem existiria. Já dirigimos o país, vários estados,
criamos muitos projetos e, sobretudo, temos história. Em nome de tudo o que já
fizemos e enfrentando o novo que as ruas estão pedindo, acho que podemos
conseguir. Em relação ao nome, é Aécio Neves. É a vez dele. Todos estão unidos
por ele. Ele tem uma capacidade, uma leveza para fazer política, que o Brasil
está precisando. Sobre a oposição, eu acho que ela não está enfraquecida. Ela
existe. Mas não tem espaço na mídia.
Editado por:Edison Franco.